domingo, 22 de agosto de 2010

Os pombos, tais como aquele rato ruivo



Andando pela rua vi pombos, quando lhes dei mais atenção percebi que um deles estava machucado, sua cabeça estava depenada em alguns pontos, deixando-o absurdamente asqueroso. Quis que o pombo não existisse. Quis não tê-lo nunca visto. Por que eu deveria ver um pombo careca e tão horrível? A feiúra do mundo me inquietou e incomodou, me senti violentada por ela. Seria mais fácil se o pombo não existisse. Mas acontece que ele existe, e me seria impossível amar realmente o mundo se eu não entendesse a existência do pombo. Penso em resoluções que preciso fazer e concluo que talvez e provavelmente eu seja para o pombo o que ele é para mim. Talvez eu ameace sua paisagem, eu, humana, sendo a minha existência absolutamente desagradável, sendo a minha raça a responsável pelo desequilíbrio do que um dia fora mais simples e melhor, menos sujo. Qual seria o habitat natural dos pombos? Que tipo de território deveriam os ancestrais dos pombos frequentar? Antes que criássemos a tão estimada "cidade"? Percebi uma urgência em questionar o que me faz pensar que o lugar aonde piso é meu e que o pombo é um intruso e não o contrário. Procurei imagens de pombos na internet para ilustrar o post. Não encontrei pombos asquerosos como eles ainda me parecem, encontrei pombos lindamente fotografados. O que me faz pensar que tudo é uma questão de perspectiva, qualquer coisa pode ser personagem principal. Encontrei também essa foto que me pareceu ilustrar o pombo como figura central e um homem em segundo plano. Imaginei o pombo como igual a mim, a questionar a existência do que nos é estranho. Depois ri, pensando no que o pombo poderia estar planejando. Não consegui saber de quem é a foto, estava em um outro blog de nome zeb.blogs.sapo.pt, então faço aqui a referência.
Estou pensando nos pombos.

4 comentários:

Paola de Lima disse...

"...depende da perspectiva"

Vc não faz idéia de como essa frase me fez pensar...

É sempre mais fácil não pensarmos que o erro está em nós e não nos outros. "Pra que reconhecer meus erros se posso apontar os dos outros?" Não é mesmo??

Adoro textos que me fazem pensar tanto a ponto de perder as palavras...rs Vc sempre faz isso comigo!! rs Mas adoro!!

Mil beijos!! Saudades...

a_rosa disse...

Sabe, eu entendi o pombom como uma metáfora. Um símbolo de tudo que é marginalizado no núcleo urbano, e, por conseqguinte, nos causa certa repulsa.
Às vezes me pergunto até que ponto somos humanos. Cada vez mais me convenço de que a pretensa racionalidade humana "depende da perspectiva".

Ana Hastings disse...

Legal, nesta semana mesmo eu escrevi uma crônica sobre pombos, só que é cômica e se chama "Por que 'pombinhos'"? Para espalhar a discórdia, rsrs.

Eu estou pensando numa lata de sardinha. Engraçado você escrever esse tipo de coisa, e logo com um vocabulário tão pomposo que dá vontade de comprar esses textos publicados, ou pegá-los numa biblioteca.

Adorei, flor.

E quanto ao nome do blog, tem uma sitação de peixes na minha crônica também, que se refere a casais de santistas serem chamados de "peixinhos" por causa do mascote do time.

Vou voltar aqui de vez em quando, aproveitando que me livrei das bombas fecais dos pombos presentes.

Beijos.

Anônimo disse...

Realmente deveríamos pensar mais nos pombos, nos rios, no outro, em tudo. Se todos o fizéssemos, quisá não nos sentiríamos intrusos nem faríamos o outro senti-lo. Utopia! (?)