terça-feira, 24 de maio de 2011

O bom, o mau e o humano

Ele contava mais uma vez a mesma história, falava de como a vida era injusta e como ele era bom demais para passar pelas dificuldades que insistiam em persegui-lo. A mesa estava cheia de conhecidos e amigos, e ele, é claro, tinha toda a atenção. Quando teve a chance, ela o segurou pela mão e, com seus olhos estreitos e firmes e a voz calma que sempre anunciava perigo: "Não fala mais disso não, vamos falar de outras coisas agora, de coisas melhores." Ele entendeu muito mais do que ela disse.

Dentro do ônibus, ele ouvia "Somewhere over the rainbow" e começou a fazer uma lista das melhores músicas suicidas.

Ela chorava sozinha, e não conseguia erguer a própria cabeça para se olhar no espelho. Concluiu que sentia vergonha de não saber ser alguém que não fosse ela mesma.

De longe , ela os vê abraçados e sabe que eles se amam, ela senta, a cabeça baixa, e se pergunta o motivo de várias coisas. Seu ceticismo fracassa e ela tem que admitir, pela primeira vez, que não controla o que sente. Um amigo a vê, ele sabe o que foi, ele também viu. Eles não precisam se falar.  Ele a empurra para o lado com o ombro e ela sorri por que sabe que ele não quer vê-la chorar.

Ele tem muito para dizer mas não diz.

Ela acha que aquele poema era pra ela. A música era pra ele.

Um dia ele a olha sorrindo e diz: "Acho que naquela época você salvou nossa amizade."

Ela pede desculpas pelo erro. A outra diz que precisa de tempo. Depois do tempo nunca mais seriam amigas e nunca mais foram. Ela acha que era pra ser assim mesmo.

"Você é uma melhores e mais generosas pessoas que já conheci." Ela disse. A outra sorriu.

Ele dissera que tentava não ficar chateado com ela, mas que era difícil. Doera ouvir, mas foi o que os salvou pela primeira vez. Ela sabia crescer.

Ela o vê e fica tão feliz que o abraça. Depois percebe que não podia.

Quando abre a pasta e tira as folhas sente o cheiro do perfume dela. Tem medo de aspirar demais e esgotá-lo.

Olha para a irmã e não se vê. Alguns minutos depois a ouve falar, e encontra a si na fala.

Ele diz que a ama. Ela sabe, ela vê. Percebe que crer é acreditar sem provas, e que amar precisa ser um pouco disso.

Vê fotos e se emociona. Haviam criado laços de amizade depois de adultos.

Eles não sabem o que está acontecendo de verdade, mas insistem em criar hipóteses.

A proximidade é extremamente perigosa para ela, que se pergunta o motivo de estar mais perto do que nunca.
Ela pede para ele mentir e ele não mente porque sabe que a verdade pode causar muito mais dano.

Eles dançam num lugar em chamas. Eles vão perder os sentidos.