segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Bom dia, barata!

Hoje eu encontrei uma barata morta na cozinha. "Deve ter morrido de calor", foi o que pensei. Impressionante como minha voz interior é capaz de fazer piadas. Sabe, é que eu mesma havia pensado há pouco se poderia desfalecer ou mesmo falecer em breve sendo calor a causa mortis. Sei também que as baratas são resistentes ao calor, mas não posso conceber sua morte natural. 

De volta à nada bela surpresa que encontrara na cozinha, sabia que tinha de me livrar do corpo, mas não podia fazê-lo sem trocar de roupa. É intimidade demais desovar uma barata de pijamas. Então, seguindo uma lógica própria e muito particular, troquei-me para chegar ao cadáver. Empunhei uma vassoura e uma pá. Pá em punho, afastei meu braço o máximo possível de meu corpo, esticando o membro apavorada, temendo que a criatura pudesse despertar e sair de sua posição clássica de barata falecida, como que imitando uma múmia. Livrei-me do feio do mundo, jogando-o no lixo. E só agora podia eu viver.