segunda-feira, 25 de maio de 2009

Girassol


Conto que fiz para minha irmã, dona de uns olhos um tanto particulares... Ainda tem algumas coisas nele que me incomodam, mas não sei muito bem o que. Espero que agrade. Qualquer crítica é bem vinda. Sem exageros, ok? Peguem leve. Abraço.


Girassol

Estavam finalmente juntos. Depois do tempo, o toque era completo, e satisfazia a ambos, como quando se come um doce que se deseja há muito. Olhavam-se e sorriam, estavam ali, e um era do outro. Podiam ser e agir com a certeza e a efemeridade que um momento curto promete. Ousar pela consciência da falta do tempo.
Ele estava com ela, afinal. E a começo. Na praia, sentados sob o sol que queimava a pele, ele segurava-a. As mãos nas costas, como a impedindo de cair, a trinta centímetros da areia. E podia realmente vê-la, ver a cor, sentir o cheiro, o sorriso. Era fácil e era bom.
Os olhos eram iluminados pelo sol. O castanho claro tornava-se alaranjado, quase amarelo, e a íris parecia uma camada de tinta sob uma superfície de vidro. Cores pastosas espalhavam-se envolta da pupila, como tinta a pincelar as pétalas de uma flor, iluminadas por luz solar. As íris de girassol. Linda.
Tinham pouco tempo, e ele se perguntava como esse pouco, esse pequeno tempo era tanto. Curto e intenso, e o momento era ela. Eles.
A imensidão breve os afogaria, talvez por isso pudessem ser o que queriam. Escolheram ser reais. O medo os deu sinceridade, o tempo os fez entregues como eternos se um para o outro. Os poucos dias durariam para sempre, tão breves que poéticos. Um imenso domingo ensolarado.
Antes eram e-mails e telefonemas. E não havia nada como ter o objeto de encanto nos braços. Em mãos. Mesmo que por um momento. A consciência de que era breve tornava tudo mais especial. Limitava a um. Os amantes eram abençoados pela perfeição do momento. Do romântico. Da falta de tempo para enxergar ou mostrar as rachaduras na pele de pedra de Vênus.
O que era real era ilusão: breve, belo, infinito de finito. Uma grande representação, o encanto já não cabendo em si. Felicidade gratuita. Muita.
Queriam estar para sempre. Mas o estar é ação temporária. Presente contínuo, finito. Queria estar para sempre. Claro. No momento em que não havia lugar para nada além do deslumbramento. O vislumbre da perfeição. Deveria ser sempre assim. Pois tudo vale muito mais por não estar sempre presente. Um momento era ela, ele. E a vida que vale a pena é feita de momentos costurados um no outro.
Ele a costurava a si. Talvez por um segundo, talvez para sempre, não se importava com o tempo, mas com o pedaço que ela era. Porque ela era algo. Uma parte. E o encantava com seus olhos furta-cores, talvez por serem castanhos, por serem alaranjados, amarelos, talvez pela mudança contínua que o sol orquestrava, talvez pelo formato de flor. Ele sorriu.
Não sabia para onde iam, e via que ela também não. Preocupavam-se com a paisagem, sem destino prévio. E a paisagem era a de um dia ensolarado, as flores mirando o sol.

7 comentários:

Anônimo disse...

Adoro seus contos! Você nasceu pra isso, sabia!? Me encanta e me faz penetrar no seu mundo de maneira tão gostosa... :)
Quanto aos olhar da sua irmã... Me parece realmente liiindo!

Saudades imensaaaas de vc!!!!

Fabricante de Sonhos disse...

Taí um blog que vale a pena ser lido!

Tudo muito bom, por aqui!

Parabéns!

Fabricante...

Unknown disse...

Adoro como e o que você escreve.

Observando você me disse mais que eu mesma sabia.

Uma palavra: Fluidez.

Amo você.

Deyvid Guedes disse...

Mesmo quem não quer acaba entrando na cena, o jeito como escreve nos prende a atenção. E tenho uma crítica sim... vc se prendeu muito no "ele", "ela", "eles" e acabou deixando o resto da cena por conta de nossa mente... isso é muito bom... só é ruim pelo gostinho de quero mais que ficou no final... rs

a_rosa disse...

"E a vida que vale a pena é feita de momentos costurados um no outro."

Um doce! como esse conto é doce de ler e de sentir. E a gente percebe a calmaria, os toques, é sinestésico mesmo!

Tassia Karl disse...

Meu Deussssssssssss!!!!
Luuuuuuu
Vc me traduz....
http://colodemenina.blogspot.com/search?q=

Tassia Karl disse...

Perfeitooooooooo