Andando pela rua vi pombos, quando lhes dei mais atenção percebi que um deles estava machucado, sua cabeça estava depenada em alguns pontos, deixando-o absurdamente asqueroso. Quis que o pombo não existisse. Quis não tê-lo nunca visto. Por que eu deveria ver um pombo careca e tão horrível? A feiúra do mundo me inquietou e incomodou, me senti violentada por ela. Seria mais fácil se o pombo não existisse. Mas acontece que ele existe, e me seria impossível amar realmente o mundo se eu não entendesse a existência do pombo. Penso em resoluções que preciso fazer e concluo que talvez e provavelmente eu seja para o pombo o que ele é para mim. Talvez eu ameace sua paisagem, eu, humana, sendo a minha existência absolutamente desagradável, sendo a minha raça a responsável pelo desequilíbrio do que um dia fora mais simples e melhor, menos sujo. Qual seria o habitat natural dos pombos? Que tipo de território deveriam os ancestrais dos pombos frequentar? Antes que criássemos a tão estimada "cidade"? Percebi uma urgência em questionar o que me faz pensar que o lugar aonde piso é meu e que o pombo é um intruso e não o contrário. Procurei imagens de pombos na internet para ilustrar o post. Não encontrei pombos asquerosos como eles ainda me parecem, encontrei pombos lindamente fotografados. O que me faz pensar que tudo é uma questão de perspectiva, qualquer coisa pode ser personagem principal. Encontrei também essa foto que me pareceu ilustrar o pombo como figura central e um homem em segundo plano. Imaginei o pombo como igual a mim, a questionar a existência do que nos é estranho. Depois ri, pensando no que o pombo poderia estar planejando. Não consegui saber de quem é a foto, estava em um outro blog de nome zeb.blogs.sapo.pt, então faço aqui a referência.
Estou pensando nos pombos.