Ela queria porque queria. Escreveu um poema sobre si, sobre o outro e tudo o que havia acontecido entre eles. Li o poema e sorri calado. Me incomodava, mas era pouco. Não sei se me apaixonei por ela ou pelos poemas, acho que foram os versos declamados saídos de sua boca volumosa e sorridente, dizendo coisas de sexo e beleza, os olhos doce-de-leite brilhantes, cor de âmbar e sempre espertos sorriam amores passados e orgulho dos seus versos.
A amei quando começou a declamar em público. E Joana não cabia em si, não se pertencia, pertencia a eles. A todos nós. A personalidade geralmente forte sucumbia aos elogios em sorrisos mudos. Um homem havia chorado por um poema, chorara por ela e agora a elogiava. Ela era um dos poetas mais respeitados do evento. Lembro de uma vez em que nos amamos e conversamos despidos de tudo. Ela tinha uma leveza em todas as ações, como se fosse natural, mas Joana era uma atriz. Nunca sabia se deveria acreditar nela.
Sei que estava comigo porque queria, como também sei que houve vezes em que ela fingia que aquilo não era nada. Como se nada para ela fosse nada demais. Sempre que falava pouco era porque tinha milhões de pensamentos turvos. Às vezes acho que duvidava de mim. Eu sempre duvidava dela, daqueles olhos doces cheios de promessas que sua boca se negava a fazer. Ela sempre se fazia leve como música. Um dia sentei-me no meio fio da calçada. Era uma manhã fresca, com uma brisa leve e gelada, sentia-me vazio, até começar a ouvir uma canção. A música me preencheu, ainda estava só, mas nunca tão bem, em equilíbrio comigo mesmo. Joana era assim. Me invadia, e eu me fazia feliz ou melancólico conforme o ritmo em que cantava. Me era saudável vê-la feliz. Chorava como uma criança de modo a me desconcertar, desmanchava-se, destruía-me o seu rosto vermelho das lágrimas. As lágrimas e aquela outra coisa que existe no choro, substância invisível, que sufoca o peito, altamente contagiosa para mim.
Ela era brisa leve, quando me levava para si. E era tornado. Parecia estar sempre cercada de rapazes e homens interessados, como se farejassem sua essência e desprezassem sua alma. Sempre achei que Joana flertava com o mundo, isso fazia bem para ela.Havia mil coisas que eu queria dizer, ela deitada no meu peito. "Você é especial, sabia?" eu pensava tanto nela, ainda penso. E foi só isso que eu disse. Como muitos homens poderiam ter dito, sem lirismo ou rimas, sem sonoridade, fato cru para quem escrevia poemas. Alguma coisa acontecia comigo. Eu tinha medo dela e de tudo que ela me causava. Essa força que ela tinha sobre o mundo, sobre a minha vontade. Ter força sobre a vontade do outro é infinitamente mais poderoso do que ter controle sobre ele.Não busco uma mulher como as pessoas fazem. Não listo qualidades que estimo, na verdade, isso não me importa, nunca me importou. Veja bem, não estou dizendo que ela não possuía qualidades que admiro, digo que Joana me levou porque me desconcertava. São raras as mulheres que admitem fazer sexo, quantas menos as que admitem gostar dele. E Joana tinha o cheiro da volúpia."Você é especial, sabia?" "É?" Ela disse. E sorriu.
A amei quando começou a declamar em público. E Joana não cabia em si, não se pertencia, pertencia a eles. A todos nós. A personalidade geralmente forte sucumbia aos elogios em sorrisos mudos. Um homem havia chorado por um poema, chorara por ela e agora a elogiava. Ela era um dos poetas mais respeitados do evento. Lembro de uma vez em que nos amamos e conversamos despidos de tudo. Ela tinha uma leveza em todas as ações, como se fosse natural, mas Joana era uma atriz. Nunca sabia se deveria acreditar nela.
Sei que estava comigo porque queria, como também sei que houve vezes em que ela fingia que aquilo não era nada. Como se nada para ela fosse nada demais. Sempre que falava pouco era porque tinha milhões de pensamentos turvos. Às vezes acho que duvidava de mim. Eu sempre duvidava dela, daqueles olhos doces cheios de promessas que sua boca se negava a fazer. Ela sempre se fazia leve como música. Um dia sentei-me no meio fio da calçada. Era uma manhã fresca, com uma brisa leve e gelada, sentia-me vazio, até começar a ouvir uma canção. A música me preencheu, ainda estava só, mas nunca tão bem, em equilíbrio comigo mesmo. Joana era assim. Me invadia, e eu me fazia feliz ou melancólico conforme o ritmo em que cantava. Me era saudável vê-la feliz. Chorava como uma criança de modo a me desconcertar, desmanchava-se, destruía-me o seu rosto vermelho das lágrimas. As lágrimas e aquela outra coisa que existe no choro, substância invisível, que sufoca o peito, altamente contagiosa para mim.
Ela era brisa leve, quando me levava para si. E era tornado. Parecia estar sempre cercada de rapazes e homens interessados, como se farejassem sua essência e desprezassem sua alma. Sempre achei que Joana flertava com o mundo, isso fazia bem para ela.Havia mil coisas que eu queria dizer, ela deitada no meu peito. "Você é especial, sabia?" eu pensava tanto nela, ainda penso. E foi só isso que eu disse. Como muitos homens poderiam ter dito, sem lirismo ou rimas, sem sonoridade, fato cru para quem escrevia poemas. Alguma coisa acontecia comigo. Eu tinha medo dela e de tudo que ela me causava. Essa força que ela tinha sobre o mundo, sobre a minha vontade. Ter força sobre a vontade do outro é infinitamente mais poderoso do que ter controle sobre ele.Não busco uma mulher como as pessoas fazem. Não listo qualidades que estimo, na verdade, isso não me importa, nunca me importou. Veja bem, não estou dizendo que ela não possuía qualidades que admiro, digo que Joana me levou porque me desconcertava. São raras as mulheres que admitem fazer sexo, quantas menos as que admitem gostar dele. E Joana tinha o cheiro da volúpia."Você é especial, sabia?" "É?" Ela disse. E sorriu.